segunda-feira, dezembro 04, 2006

ALGUMA COISA ACONTECE NO MEU CORAÇÃO

* Para o meu tio (e ídolo) Hamílton.


A IDA

Lá fomos nós em mais uma investida por terras paulistanas. A primeira novidade foi um terceiro elemento: um homem acostumado às filigranas do requinte e do luxo, mas que se esforçava, porém, para não demonstrar suas frescuras. A cara dele subindo a bordo de um 737 da Gol já seria motivo para um texto à parte. Bem, não será desta vez que irei achincalhar o coitado exclusivamente. Até porque é feio cuspir no prato que se come.

O infeliz teve que se submeter a nossos desejos e programações. Viajou com as perninhas apertadinhas, fingindo que aquilo tudo era muito natural para quem se acostumou à first class. A melhor parte foi vê-lo comer goiabinha (aquela falsa barrinha de cereal) e água mineral. Hen hein... Pensei em colocar a foto aqui, mas seria exposição demais. Ah, antes que eu esqueça, tenho que apresentar o quarto elemento: Rachel, o símbolo máximo da objetividade direta, uma mulher pra lá de engraçada que fica bêbada com meio gole de qualquer coisa.

Ainda no avião, fiquei pasma com a facilidade do bonitão com as palavras cruzadas. Eu derramando meu amostramento em concluir a Coquetel Cérebro (é uma difícil pra se lascar, só para metidos a profissionais, como eu); e ele terminando em seis minutos uma Recreativa (o que há de mais high level nas cruzadas). Confesso que perdi, mas ele também deve confessar que dei a solução para vários quadradinhos. E quer coisa mais chata do que fazer palavra cruzada com um chato dando pitaco? Pois sim, era eu, metendo-me onde não deveria. Por estar acomodada na poltrona central, uma hora eu falava sobre a matéria da revista que Ivany estava lendo; noutra hora eu pitaqueava nas cruzadas do bofe. E assim foi a viagem inteira.

Aliás, na hora da subida (coisa cruel, em qualquer circunstância que seja), lembrei-me do Legacy e acunhei nas orações. Aliás, se fosse pré-requisito pra ser santo avaliar o minuto rezado, o Vaticano me receberia com tapetes vermelhos. Acho que consigo atingir a média de dez rosários por minuto. Comecei a espirrar, pois meu sistema estava nervoso. A essas alturas, a figura da minha esquerda roncava tão leve quanto um motor de Buggy e a louca à minha direita tossia aquela tosse de cachorro engasgado com osso. Eu fungava, espirrava e limpava a coriza. Uma sinfonia perfeita, que mais parecia a véia debaixo da cama: Ronca-funga-tosse.

25 DE MARÇO
Fomos à 25 de Março naquele mesmo dia, lógico, eu e my partner, deleitarmo-nos no templo da rafaméia consumista. Lembramos do carnaval de Olinda, mais precisamente dos Quatro Cantos, para que a comparação seja mais exata. Pense num lugar entupigaitado de gente... Para piorar, chovia uma chuva tão chuvosa que precisamos nos abrigar sob duas capas que nos deixavam umas coisinhas fofas. Última moda, o cão. Um boy olhou pra mim, eu já devidamente paramentada para o temporal, e disse: “que delícia”. Como assim? Paulista é tudo tarado mermo, pois eu estava tal qual batatas nun saco de supermercado.

Por incrível que pareça, Ivany consumiu mais do que eu. O que o liseu não faz, né? Ela tava estribadinha toda. Dessa vez ninguém caiu, mas teve sandália quebrada, sim. Conto depois.

JANTAR FINO
À noite, fomos os quatro para o propalado Figueira Rubayat, convidadas pelo bofe high level, claro. O lugar é lindo, maravilhoso, jantamos sob uma enorme figueira cujo tamanho era proporcional àquela ingrata parte que fica do lado direito do cardápio. Caro é alho! Peixinhos ao forno que custavam o mesmo que uma calça jeans, como lembrou Rachel. Crustáceos tão “em conta” que tive medo de ter uma crise alérgica. Pense num lugar caro, multiplique por dez! É mais caro ainda! Quase não conseguíamos escolher algo.

Por falar na alergia, ela aconteceu mesmo. Ivany prontamente me deu um negócio chamado Ixcizine, sei nem como escreve, mas é um antialérgico tão poderoso que me deixou o dia seguinte em estado letárgico. Eu participando de um curso sobre pesquisa e dormindo (literalmente) encostada na parede. Haja arrebite! Eu ainda mato Ivany.

Voltando à noite cara (mesmo), notamos Ivany meio emputecida: tanto que nem queria escolher um prato. Eu sugeri: pede Filé à Parmegiana! Na mesma hora, minha linda amiga mandou-me dirigir ao orifício rugoso (não exatamente com essas palavras). Pense que a bicha pegou ar... O prato mais interessante foi o dela mesmo Ivany: uma lapa de osso com uma tuia de carne e umas batatinhas em forma de pastel. Daqueles pratos que você não agradece, você relincha. A cena remetia ao tempo das cavernas e eu fiquei imaginando a cena: Ivany de quatro patas, cabelos assanhados comendo aquele troço. Que nojo! A carne ainda tava sangrando...

De sobremesa nos trouxeram um doce de leite uruguaio (acreditem: eu não gosto de doce de leite). Fui quase forçada a comer. Achei parecido com doce de leite da Embaré e quase fui crucificada pelo comentário inoportuno. Meia garrafa de vinho para cada um e voltamos ao hotel, trôpegos, como tinha que ser.

O bofe, acostumado a lençóis de 200 fios egípcios, tecidos por freiras circuncidadas, teve que submeter às duzentas cordas cearenses, dois punhos e uma bela varanda. E assim vem ocorrendo até hoje. Alguma coisa acontece no meu coração.

5 comentários:

Anónimo disse...

Hummmm Inveja desta programação paulista. :-)
Tirando a história do filé à parmegiana(ai, pobreza).
O negócio é voltar pras saladas. Preciso me jogar definitivamente. Mas este amor ao carboidrato não me deixa e se acumula na minha cintura. humpf

Vanessa Campos disse...

Pois olhe, tio Hamilton, me rendi às redes aqui no Ceará. Mas gostei mesmo foi da referência aos Quatro Cantos no meio do carnaval, rapaz, isso é que é sensação de calor humando em plena Sampa :)

Anónimo disse...

Sinceramente....o bom seria que as pessoas parassem de falar de Legacy, Gol, Descontrole Áereo...viajar apertado numa aeronave da Gol e ainda ter que lembrar disso tudo...é o inferno! Ainda bem que você sabe rezar...
Bom eu não fui pra SP, mas me divertir horrores lendo suas historias e no meio as caras e bocas de Ivany que, daqui...de loooooonge...fico só imaginando! Beijo...E a confraternização da Aveca? Vai rolar?

Anónimo disse...

Nossa esse negócio de avião, gol, legacy, etc. dá aflição só de pensar. Imagina saber que quando voamos, dependemos de caras cansados e muito mal pagos! Aff... quero nem lembrar...
Beeeijos, adoro ler suas aventuras!!!

Anónimo disse...

Blogueira-Mór-do Universo,

Vixe, o meu comentário não é pro seu texto, sempre lindo, divertido e muito criativo...
O meu comentário é sobre o comentário do "hamilton"... prezado hamilton, avião tem alma e sentimento. Só quem interage com ele sabe. Cada um tem seu jeito, sua reação. É só estar em sintonia com nosso mundo, saber apreciar a beleza de uma curva suavemente descrita no céu azul, nos pequenos, abrir a janela de inspeção e ver uma nuvem se desfazer, aos poucos, na palma de sua mão. A beleza do pouso suave e bem feito. O reverso do jato reduzindo os ruídos das rodas... e em especial, o ângulo da terra quando a decolagem está se iniciando.
É tudo belo, tudo delicioso, tudo prático... é preciso apenas amar o vôo.
E... "eu amo muito tudo isso"!!!