PROCURANDO NEVE
Resolvi ir a Salvador no dia seguinte ao meu aniversário e foi o melhor presente que me dei. Fui no sentido da pizza com fatias: meia trabalho, meia diversão e meia interrogação. E não é que provei de todos os pedaços?
Escolhi a capital baiana por conta daquela história da mulher que brigou com o marido e foi passar uma semana para pensar na relação. Logo no aeroporto, já encontrou um capoerista forte, com ginga e coisa e tal. Passou uma semana com a figura e ele não dizia o nome nem a pau.
- Se eu disse meu nome, você vai rir de mim…
Todo dia ela perguntava e todo dia ele não dizia. A mulher deixou pra lá e foi curtir a vida de solteira com o mandingueiro. No dia de embarcar, ela disse: “Por favor, meu rei, já to indo embora… Diga seu nome”. E ele:
- Jura que não vai rir de mim???
E ela: “vou não, meu nego, diga aí”
- Meu nome é Neve.
E a doida não se agüentava de rir não. O cara, todo constrangido, disse:
- Ta vendo? Você prometeu que não ia rir de mim.
E ela:
- To rindo de tu não, fio, eu tô rindo é do meu marido que não vai acreditar jamais que peguei 20 centímetro de Neve em Salavador…
O ELEVADOR LACERDA
Eu não conhecia a capital baiana e meu amigo Zé Luís, um cearense (sim, eles vão dominar o mundo, é uma praga (boa claro!), quis fazer as honras da casa. Só que ele também não conhecia muito a terrinha e fomos dois desavisados andar pela cidade mais astral do planeta, terra em que o povo fala alto e fala sem parar, entretanto numa rotação que pode até dar sono.
Fui atrás de cartão postal. Queria ver o Elevador Lacerda de todo jeito. Ele, um gentleman, ofereceu-se para pagar minha passagem dizendo que eu pagaria a cerveja. Pois bem o vi com uma moedinha na mão e não sabia pra que era. Primeira palhaçada de Zé: a “passagem” custa cinco centavos. Vinte minutos de espera (cidade que sabe atrair turista está sempre lotada) e lá estávamos nós num Atlas Schindler ou era Thyssenkrupp e eu perguntando a ele onde era o elevador. E ele: “Oxente, Hellen, mulher, o elevador é isso aqui mesmo!”. E eu: “Como assim? O elevador é um elevador?” E ele: “Agora deu, queria que elevador fosse uma escada?” Fiquei decepcionada, achei que ia ter uma visão de toda cidade, com guia turístico, Olodum tocando dentro, bahiana fazendo acarajé, Ivete Sangalo cantando “Vai Rolar a Festa”, fitinhas pretas com as inscrições “Saudades de ACM”… O Elevador Lacerda é uma merda.
Pior foi termos que pegar o elevador de volta… Mas uma moça muito simpática disse:
- Por que vocês não pegam o “Prano Incrinado”? Eita, Nordeste… Eu me senti no Recife, o povo também fala errado. Só que aqui na Bahia, o errado é mais difícil que o certo. Ouvi o taxista falar que não güentava mais receber “planfeto” no trânsito, a recepcionista dizendo que eu tinha que assinar um “contatro”, a atendente perguntar se eu queria um “Táquis”, o garçom me oferecer suco de “acelora”, entre outras divergências dos meus erros.
Fomos - eu e Zé – atrás do Plano Inclinado, andamos uns 200 metros e demos de cara com o bicho fechado. E eu perguntei: “Oxi, e não fecha às sete?”
E o moço:
- Feeeeeecha, só que hooooooje quebroooooou mais ceeeedo…
Como assim quebrou mais cedo? Olhei para Zé e começarmos a invejar a tranqüilidade baiana. Aquele negócio deve quebrar todo dia, mas hoje quebrou antes da hora... Afffffff Voltamos ao Elevador Lacerda (aquela merda, aquela merda), o filho da mãe pagou novamente a minha passagem e enfrentamos de novo os 20 minutos de fila. Daí, um turista se revoltou e foi gritar como rapaz que organiza a fila, dizendo que era uma falta de absurdo aquilo, um lugar cheio de turista, com os elevadores todos quebrados… E o baiano (que vai viver 200 anos) já estampava sorriso no rosto quando disse:
- Quebrados nãaaaaaaao. São quatro elevadoooooooores. Dois tão funcionaaaaaaaando, um tá paraaaaaaaado e ooooooutro tá em manutençãaaaaaaao.
Morremos de rir, eu, Zé e todo mundo na fila. Mas o cara quis bater boca com o baiano. Pensa que ele se importou?
- Quando vê assim, tu é bem pauliiiiista, né não? Cuidado com o vôo da Tam, viiiiiiu?
Como pode ser possível uma coisa dessa? Ser baiano é viver num outro universo, um mundo paralelo, bem mais alegre do que o convencional.
A PAIXÃO DO CABEÇÃO
Depois de uma rezazinha básica na Igreja de São Francisco, sentamos no Terreiro de Jesus para uma cervejinha regulamentar. O som de fundo era de um grupo de samba, executando o “Pagode da Mulher Solteira”. Pensei: É hoje!
Uma travecona gente boa perguntou se eu queria fazer trancinha no cabelo e eu aceitei. Meus pacientes vão achar lindo! Na verdade, só aceitei por causa de Zé Luís, que estava paquerando uma das trançadeiras, dizendo ser a mulher mais bonita que ele já viu na vida. O homem ficou encantado!
Olhei pra sujeita. Era uma morena de um metro e sessenta, cabelo todo de trancinha, rosto limpo, mas olhos com remela, e aparentando uns 18 anos. Era uma mulher em estado bruto: ela cuspia, tirava meleca do nariz, cutucava os pés, fungava e coçava a bunda… Acho que tinha até pano branco. Mas Zé achava esse aspecto selvagem super entesante. Sabe o que é? A menina tinha cara de tímida, sabe? Ela tinha uma ponta de “me-ensina-a-fazer-isso-vai” ou de “fica-olhando-não-que-eu-choro”… Foi isso que endoidou o cabeção cearense. Eu nunca vou entender os homens, mas...
- Zé, tu num tá muito carente não? Tu é casado, pow! Tua mulher é muito mais bonita que essa desgraça...
- Minha amiga, eu tô é apaixonado, disse ele com cara de babaca (e todos temos cara de babaca quando ficamos apaixonados).
O nome da aborígine era Saádia (era irmã de Suli, Sulamita, que estava fazendo minhas tranças), mas seu apelido era Binha. Ele, que é jornalista, começou a entrevistá-la, numa série de perguntas sem fim. Ele deu o cartão dele a ela (vê, será que a peste sabe ler?) e ela perguntou se era um ímã de geladeira. Eu ria, né? Zé babando pela morena e eu sofrendo com as tranças.
Pensei: agora lascou! Perdi o companheiro de chopp porque ele não queria nem conversar comigo. Até que, não mais que de repente... Eu ainda sofria na cadeira com Suli. Pense que dói mais que depilação! Ainda estou sentindo o efeito lifting das puxadas, minha cara tá toda esticada, feito uma maria-chiquinha apertada, fiquei até meio oriental... Então, eu naquele sofrimento sem fim e me aparece um galeguinho dos zói azul.
A MINHA PAIXÃO
Foi um italiano, um lindo e narigudo italiano de uns 40 anos que me puxou pelo braço e disse:
- Sei la moglie della mia vita (Jamais ele imaginaria que eu falasse italiano e tava entendendo tudo).
Sim, ele disse que eu era a mulher da vida dele. Devem ter sido as trancinhas... eu hein… Aparece cada coisa. Como eu não tinha descolado nada (Zé Luís atrapalhou tudo), resolvi dar conversa pro carcamano:
- E tu sei l’uomo piu bello che ho visto! (o macho mar bonito que já vi – mentira, né!)
Aí, ele tascou:
- Sei la ragione della mia vita
Que chique, a razão da vida, ninguém nunca tinha dito isso pra mim
- Sei la baiana piu bella del mondo
Bem, me chamou de baiana, mas tá valendo
- Sei la moglie chi sogno tutti giorni.
Oia pra isso, o macho sonhando comigo todo dia sem nem me conhecer.
Aí Zé Luís virou pra mim e disse: Hellen, tu tá carente, não fica se fazendo de difícil não...
Expliquei ao insensível cearense que o bom da cantada é a cantada, não o que se consegue depois...
Eu sofrendo com as trancinhas e o italiano segurando minha mão. Até tava doendo menos com o carinho dele. Olhou pra mim e disse:
- Voglio sposarti!
Oxi, o caba me viu agora e já quer casar? Tem algo estranho! Eu só fazia rir e tirar onda...
- Voglio baciarti!
Eita, ele queria beijar. Mas né assim não! Pra me beijar tem que ter dente organizado. Éeeeeeee. Hellenzinha tem nóia de dente! Olhei para a boca dele pra ver se tava tudo limpinho, se era branquinho, alinhado, se não tinha nenhum faltando, se tinha tártaro e se os consertos eram feitos com amálgama ou com resina.
Tava tudo certinho, pense em duas arcadas organizadas...
Aí, quando eu já tava fazendo beicinho, com a certeza de que ele era o maior amor da minha vida, cai o maior toró de chuva. O cara olha pra Zé Luís e diz:
- Ê, mano, agora tenho que ir que meu acarajé tá no óleo. Me dá a grana!
E foi embora sem olhar pra mim.
O que tinha na mão joguei em Zé: lata de cerveja, celular (meu e dele), sandália e o espelho da baiana QUE FILHO DA MÃE!!!!!!! O miserável, que dera R$ 10,00 pro falso italiano me conquistar, tava se estourando de rir. E eu: ME AGUARDE!
Quando terminei o serviço das tranças, botei o batom vermelho da baiana e fui direto na camisa branca dele. Dei um monte de beijo em várias posições de boca. E ele:
- Não, Hellen, minha mulher vai me matar. Por favor, por favor, desculpa, desculpa, era só pra descontrair! Minha camisa é cara, Hellen!
Nessas alturas já estávamos os dois na chuva. As trancinhas não desmancham, então eu relaxei... Pense numa coisa boa! Ríamos feito loucos em pleno Pelourinho. Cantamos na chuva, andamos de mãos dadas, ele jogou a camisa fora (claro!) e voltamos os dois para o hotel, ambos molhados da cabeça aos pés.
Amigos também amam. E, como eu não estava fazendo nada (e nem ele), resolvi rodar o taxímetro. Agora são 101.
quarta-feira, agosto 15, 2007
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15 comentários:
101...voce chega lá...rsrsrsr
gostei do texto....acabei de filar aula só pra ler...se bem que é aula de fisica...arg...
muito bom o texto....
;D
Putz, Hellen é de lascar.
Eu O D I E I o elevador Lacerda...fora o fedor!! Tu sentiu Hellen? PQP...... Saudade de tu Aninha
Ai Hellem, eu amei salvador, o elevador, é um simpls elevador, não sei pq vc esperou tanta coisa disso. O bonito mesmo é só a arquitetura. Eu so fiquei decepcionada, pq achei que ele tinha vista panoramica, mas não tinha.
Agora esse pseudo-italiano que te paquerou, pelo amor de deus...
muito comédia viu!!! rsrsr
Você sempre arrasando!
obrigada Ana, eu que gosto do seu e nunca perco os seus textos hilários. Quando você escrever seu livro, estarei na noite de autografos!
Eu tive a mesma decepção. Esperava que o elevador me levasse a uma viagem panorâmica da cidade e, pimba, NADA. Mas o pelourinho é fantástico.
Olá minha querida Helem!
Eu indiquei seu blog para fazer uma RE-postagem do seu melhor texto.
É uma corrente inter blogs
Sugiro que vc vá ao meu blog, para que tenha os maiores detalhes.
No post POR INTEIRO PARTE 1, o mais recente.
lá vc vera as explicaçoes ok?
abraços!
wow my hein...Que viagem...a dos 20cm de neve, e a do falso carcamano destruíram dasusaudhasduh uma aventura inesquecível, essa...
Eu gostaria de agradecer sua visita à meue spaço, e dizer que serás sempre muito bem vinda lá. E, não esquecendo, devo dizer que gostei muito desse seu texto, bem como da arquitetura de seu blog, e de todo o conteúdo
Deixo-a com meus votos de beijos e com o meu habitual
Muito obrigado, vamos almoçar.
heheeheheeee
Caraca que aventura...nunca fui a Salvador :(
Muuuito bonito seu blog, a maneira que vc escreve é muuuito legal de se ler :)
Então, você disse lá no meu blog que ficou curiosa de saber em que época eu gostaria de ter nascido...bom, de preferência nos anos 30 pra ter aproveitado bemmmm os anos 50, pelo qual sou apaixonada!
Mas viver em todas as épocas não seria mal não viu... heheheeee
PS. estou querendo linkar uns blogs lá no meu, poderia linkar o seu? :)
abraços e obrigado pela visita, sempre será bem vinda!
Caríssima,
vc sempre surpreendendo com seu textos vivos. Descobri seu blog num noite despretenciosa de encontro de Lulus para falar da vida, dos homens e de sexo, claro.
Acho massa cada palavra colocada, me sinto devidamente representada. Não cheguei aos 40, mas pretendo seguir com o mesmo senso de humor e vontade de viver.
Salvador é a terra da esbórnia. Estive por lá em janeiro e sonho como o dia de voltar naquele lugar q não tem nada de especial ,mas que tem o melhor astral que eu já vivi. Simplesmente por isso, Salvador é tudo!Sem falar naqueles negros lindos, devidamente contornados e com rebolados enlouquecedores, ui!
Tô feliz! Vc consegui expressar o meu sentimento. Só não tive direito a 20 cm de neve, nem cheguie nos 101. Uma pena!
Helem, tenho uma proposta pra vc lá no meu blog. Havia feito uma pra vc anteriormente,essa é diferente, uma corrente interblogs, onde vc iria postar 7 fatos casuais de sua vida.
lá no meu post 7 fatos casuais vc terá mais detalhes.
abraços!
Helem, vou começar uma campnha pra vc começar a escrever, todo dia venho aqui atras de uma nova aventura e kd???
vamos mocinha, vamos alegrar o nosso dia com as suas loucuras!
Hellen, moça!
apareça, sumiu que nem eu é?! hehehe
tem um convite pra ti no meu blog!
bjs!!!
A neve não pode nunca derreter. risos.
Abraço.
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
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