A SAGA DE UMA MULHER TRAÍDA

Todas as piadas de corno perdem o sentido depois que você passa a carregar chifres consigo. Chifres doem e machucam mais do que qualquer outro peso que você queira erguer. Doem porque todos os outros estão ali, espiando, analisando o seu esforço em carregar tão triste, patético e pontiagudo adorno. E você se empenhando pra que ninguém perceba, fazendo aquela cara de paisagem.

Com raiva (na verdade, não fico com raiva, fico PUUUUUUUUUUUTA ) porque meu marido e a amante se entregaram à lascívia no interior do meu quitadíssimo automóvel 2006, resolvei trocar de carro, antes que eu encontrasse um resquício de luxúria e destruísse o inocente. E Marcela me ligou: “Helen, é melhor você comprar um carro com teto solar”. Não entendi e perguntei o porquê. E ela (néscia, cretina, energúmena, mentecapta): “pra caberem os chifres, mulher”. Não teve graça, nunca mais terão graça piadas de corno. Ela foi além: “Tem nada não, fia, uia, a gente junta as 1550 amigas que estão com o mesmo problema e formamos um time de futebol. Ou melhor, de futebol não, pois os chifres vão furar a bola, melhor de boliche, que a bola já vem com furos”. Que ódio de Marcela. Se bem que o time é grande: Rodrigo Santoro, Gisele Bündchen, Ivete Sangalo e tantos outros que já foram para o paredão do chifre. E o corno de Chico Buarque? Putz, chifrudo famoso aquele. Se bem, que com Chico é honra, não é cornura.

Por falar em paredão, fui almoçar outro dia e passei numa rua que tinha um muro com a seguinte composição “Mário é corno!” COM EXCLAMAÇÃO E TUDO. Chorei, sofri por Mário e fiquei imaginando que o autor da frase teria sido o amante, e que deveria morar naquela rua, e que ele deve fingir que não é com ele. E Mário deve pensar todos os dias em apagar aquilo, mas se o fizer, estará se “auto-denunciando-se-si-próprio”. Ser corno é ser hiperbólico. Deu vontade de subescrever. E QUEM NÃO É?

As músicas também têm conotação pérfida. Todas. De Ciranda-Cirandinha (o amor que tu me tinhas era pouco e se acabou), a Roberto Carlos (se um outro cabeludo aparecer na sua rua...); Chico Buarque (fui muito fiel, comprei anel, botei no papel um grande amor); Caê (Vagaba, vampira!O velho esquema desmorona desta vez pra valer); sertanejos (pense em mim, liga pra mim, não, não liga pra ele); breguenow (Renata, ingrata, trocou o meu amor por uma ilusão); internacionais (Oh, breaking my heart). E se for falar dos italianos, afe maria, ô povinho exagerado.

Mas é preciso desmistificar algumas coisas. Em primeiro lugar, o corno nem sempre é o último a saber; pode até ser o último acreditar, mas quem está sendo traído pressente. Todo corno é sensitivo, principalmente as mulheres, pois os homens são como 7 de Setembro, dão bandeira demais. São burros, não sabem fazer e ainda dão uma de bateria, dizendo que vão tomar uma solução. Os marcianos são tapados e as venusianas são verdadeiras espiãs. Ninjas. Conseguem vasculhar tudo, uma mistura de Sherlock Holmes, Panteras e Magaiver quando o assunto é descobrir amantes. Conheço gente que passou mensagens para toda a lista de mulheres do celular do marido, na tentativa de descobrir qual delas era a amante. E conseguiu....

Eu, aqui, como galo, com chifres até nos pés, fui ter uma conversa em família, com os pais dele. Quem sabe não dariam uma luz. Mas, vejam, seria melhor eu ter me pendurado num poste, pois a mãe dele, beata que só, disse-me que ele era um bom menino e tinha certeza que aquilo era coisa do diabo. E era mesmo.

Conheci a infeliz: um cão chupando manga, o satanás pelo avesso, gorda, celulítica, de abundantes culotes, uma pança descomunal, buchão quebrado, caído, o demônio da Tasmânia, o belzebu pintado, zé pilintra, pomba-gira, uma mistura de Ravengar com Mun-Há, a besta-fera, o boitatá, um tribufu, a Princesa Fiona em forma de Ogro (SIM, ELA É UM OGRO!!!!), Flipper, uma orca disforme, a Priscila, aquela cadela da TV Colosso, Pikachú. Usava blusa de suplex pink, com muita lycra coladinha àquele corpanzil de cetáceo (deixando pneus de caminhão caírem pelas laterais) e uma bermuda jeans by sulanca que dividia sua vulva em duas gordas partes. Medonho, sinistro, diabólico, fantamasgórico. A praga, a visão do inferno. Caminhava pesado como um elefante, rebolando sua enorme bunda pelo salão. Tão grande que era possível escrever o Hino Nacional todinho numa linha só. E ainda tinha uns inscritos tácitos, em sua fronte: SOU PUTA. Mas o fato é que meu marido se apaixonou por essa coisinha fofa e filé. E não sejamos preconceituosos nem despeitados (?!?): quem ama o feio, bonito lhe parece. Almodóvar se daria bem nessa história. Putaqueopariu, a mulher é o cão. Helen, Helen, deixe de malhar, diz minha consciência.

Depois que a gaia passa a fazer parte de nós, começamos a juntar as peças do quebra-cabeças: o dia que ele não veio jantar, o dia em que teve que trabalhar até mais tarde, aquela data que precisou ficar com o carro, o ritmo louco de trabalho dele, que não permite folgas nem mesmo aos sábados. Ser corno é fogo! E corno terremoto, daqueles que se tremem todinho e nada fazem é pra se lascar.

Mas, fazer o quê? Não sou corna vingativa, portanto, nada de supor que irei ofertar minha retaguarda ao primeiro que passe na minha frente. Fui beber pra esquecer meus pobrema. E entre uma dose e outra de água tônica, pensei em como é dura a vida de casada. Bom mesmo é ser amante. Amante ganha flores, anéis, tem direito a almoçar com o adúltero no dia do aniversário, ganha elogios, está presente nas festas do escritório, ganha mensagens de amor pelo celular. Mulher só ganha cansaço, reclamação, ejaculação precoce e muitas exigências sobre a forma física. Acho que vou ligar pra o Zé, um ex, muito especial. Sabe como é mulher sempre tem que comer alface pra emagrecer e um cafajeste pra não esquecer. Enfim, mentira só é bom quando a gente conta e gaia só é bom quando a gente bota!

Na verdade, estudos cornológicos estabelecem que chifre é psicológico, algo que colocam na sua cabeça, mas que necessariamente não existe. Só passa a existir se outras pessoas souberem. Por exemplo, se ninguém tivesse conhecimento dessa minha protusão na testa, certamente, eu não levaria a fama. E se ninguém sabe, ninguém viu, é igual a Saci: NÃO EXISTE! Mas mulher tem mania de falar. E eu, do alto dos meus 40 anos, falo, falo, falo e falo novamente. Mulher fala, muito da dor, possivelmente na esperança de que a tormenta seja minimizada ou na vã intenção de arrebanhar entes solidários. Já homem fica pianinho, caladinho na sua, pra não aumentar a fama de chifrudo. Fui falar com Sinval, um grande amigo, que entende mais de homens do que qualquer mulher. Em sua análise, se a mulher colocar gaia no marido a cada cinco anos, deve fazê-lo sem a menor culpa, porque certamente ela já terá levado umas mil. “Helen, homem é tudo igual, só muda o nome e envergadura do bilau”. Eu, então tentada a desculpar o calhorda, depois da doce noite de amor com o Zé, estou sendo convencida a sair dessa e abrir uma Skol. Eu não quero ser corna socialista, que tem que dividir tudo com os outros. Seria eu uma corna ioiô, daquelas que vão e voltam?

Como já tenho experiência, um dia vou contar sobre COMO DESCOBRIR SE VOCÊ ESTÁ SENDO TRAÍDO?



Portuguesa, com certeza
Duas socialites portuguesas conversavam durante uma festa. Uma mostrava para a outra o lindo anel que havia ganho na semanaanterior:-É diamante? - Não...é do meu marido mesmo!


Sem aceitação
Amiga chorando no ombro da outra:
- Eu sou uma infeliz, Cremilda!
- Por que, Elizângela?
- Eu sou uma infeliz! A família dele não aceita o nosso amor. São todos contra... o pai, a mãe, os irmãos, os sobrinhos... Todos mesmo!E a amiga: - Como é que pode ter gente tão má assim?- É... E a pior de todas é a esposa dele!